sábado, 24 de abril de 2010

sábado

Deduções

Com tormentas à vista
navegar é difícil
arrisca-se o carregamento da memória
e a empresa no devir.
O porto assim sendo
é lugar de onde não se quer sair.

De costas para as águas
megafones nas ruas
anunciam vagas na arca
- vozes de assalto e repetir.
O mar assim traduzido
é perigo nos cantos de seduzir.

Para monstros e tempestades
cindindo firmamentos e miragens
há o Deus vingativo (como no slide da infância).
Seu nome assim evocado
lota palácios e templos
por mercadores de linguagens.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Preferência

Não leio certidões
já faz um tempo.
Não entro em cartório
raramente em igrejas
(assisto desatenta a casamentos).
Não me encanto com
melodias e enredos
típicos desses tempos
em que as boas histórias
jazem nas estantes
ou vivem sob risco
nalguma memória.

Não freqüento salas de conversa
e a tevê quase sempre apresenta
um repertório que aborrece
meu desejo de invenção.

O que eu gosto mesmo
é da letra escrita
no pé do ouvido
meio sem vergonha
sem testemunhas
e flashes fotográficos.
Eu gosto mesmo é
daquelas coisas que fazem
qualquer filhodedeus se sentir
nas nuvens tocando o céu
mandando e desmandando
chuva
na terra.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A poesia me justifica

Busca

Passeio entre folhas secas
neste bosque de palavras.
Estarei pisando na morte
enquanto a vida se ergue
fora do alcance?

Um tronco se ramifica
e as linguagens se reproduzem
para uma beleza
que talvez nunca se complete.
Estarei pisando na morte
enquanto os sentidos
desperdiçam seu pólen?

Quem busca respostas sabe
que essa é tarefa
a se cumprir no futuro.

Aliança


Minha prece do dia
meu preço de vida
é este papel.
Uma hóstia que engulo
não sem antes
mastigá-la.
Sei que morro
daqui a pouco
mas aqui me deixo
comungado.
Depois serei ex.
Como tudo, aliás.
E porque suspeito
de que o passado esteja no futuro
canto o presente
como uma morte
que não é tristeza.

Pretensão ou pressentimento
meu presente
é a palavra
é o pó
e a lavra.