sábado, 22 de maio de 2010

Sobriedade


Bebo
um gole atrás do outro
do rio que passa manso e convicto
no teu olhar.
Conheço um pouco de peixes
um pouco de algas
um pouco de seixos.
Bebo mais
e o mundo cresce
nas tuas retinas.
Antes de me embriagar
completamente
tateio o amor capturado
nas margens
do que me exaure e me fascina.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Namoro

Vou passando a mão
numa
noutra
e o fim da carícia
é a escolha
(nada fácil).
Gosto ao mesmo tempo
do desleixo e do alinho
das palavras.
Gosto das que ficam
e desejam um enlace ardente
profano, profícuo
e se estendem
no gozo da leitura.
Também gosto das que escapam
e deixam aquela impressão
de incaptura e
perda total.

sábado, 8 de maio de 2010

Intervalo comercial

Ama depressa
que não há tempo para jogos
nem de dados nem de charme
ama com o amor que tiveres na manga
antigo ou novo em folha
rapidamente que não garantimos
sobrevida fora da bolha
ama aí mesmo debaixo da escada
e cuida que o azar no amor
não te dará algum dinheiro
não pense nos prós e contras
na teoria e nas contas
ama apesar da moda
dos obesos dos nem tanto e dos tísicos
sem levantar hipóteses
deixa aos físicos
o aviso sobre as ilusões
ama sem a nostalgia do vinil e da rádio am
ama logo sem a obsessão da alma gêmea
espécie de incesto platônico
não te dissipes com princesa ou príncipe virtual
com que copulas nas madrugadas
e no intervalo para o almoço
na ausência do chefe
na ausência especialmente
de um amor de carne e osso
ama mesmo com esse amor estropiado
por inumeráveis contingências
além do que pode este poema
ama passando da medida
de peso altura ou profundidade
com que tens aferido a existência
ama com todo desejo
não aquele de habitar a lua
mas o de ir à esquina para a cerveja ou o café
ama imediatamente
com ou sem rima refrão música tema
ceticismo desilusão ou fé
quem procura demais
nunca acha o sapato torto
ama criatura o tempo urge
se não podes cumprir as exigências da alma
ao menos não dispenses o corpo.