de dentro do carro
vou atravessando a cidade
de ponta a ponta...
É noite em pleno dezembro
e da sombra negra das casas e prédios
pendem inúmeros pingentes de luz
de modo que retiro o que disse antes (sobre a sombra negra).
Tudo está tão claro.
As lojas maquiadas em tons dourado e vermelho
os postes e as praças cheios dos cuidados do governo
as árvores com colares da copa ao tronco.
Por toda a parte purpurinas elétricas a capturar nossa atenção
com a eficiência que já não sei se ainda têm
as estrelas, cada vez mais distantes,
como cada vez mais raro é o gesto de olhar para o céu.
Também vejo gentes.
Não são como a lâmina de vidro da janela do carro,
o colorido das lâmpadas não as atravessa.
Poros, pele, carne, osso incapazes
de deixar a luz vir de fora para dentro.
(Sobre o caminho inverso
meu ponto de vista se embaralha).
Então preciso observar que,
a multidão, nas cidades,
feição distorcida,
olhos que não piscam,
ombros deprimidos,
não é adequada para a festa.
Assim, para uma boa imagem do natal
deve-se ficar atento
às lentes
ao enquadramento
à nitidez.
(publicado na exposição "cartão de natal" do Sesc Arsenal/2007)