sábado, 17 de dezembro de 2016

À casa do Ferreira
Com os dias tão velozes
muito mais do que as noites
não tenho notado se aqui dentro
as peras apodrecem sobre a mesa
nem se lá fora
o açúcar madura no canavial.
Passar dentro do tempo
e não sentir
ver mil signos por segundo
e não se traduzir
talvez seja pior do que desejar
que o poema prometa
e ele não cumprir.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

AO CABRAL, SEM PLUMAS

Não ter nome ou se chamar Severino
que diferença faz.
Na pia e para o resto da vida
a pedra no sapato
é o sono de não poder acordar
da fome
e do destino de ser mineral.
Não ter o verso bem feito
é o de menos.
Incomodam as verdades que perduram
os erros repetidos
a reiteração da morte em vida.

(Sete Dias)

sábado, 24 de setembro de 2016

SALVE, PATRÍCIO!

                   (dedicado ao poeta Carlos Nejar)

Somos poucos,
(o que não é lisonja, é lástima)
caro Nejar.
Sem perder de vista
o arado que rasga
o mapa dos ventos
sinto que as sementes
deixam de brotar
no inventário das almas.

Reveja o testamento e os contratos.
E se ainda há pouso
na casa dos arreios.
Se houver,
talvez eu apeie
dos nervos e do cansaço
de tantos anseios.

(Sete Dias, 2007)

domingo, 28 de agosto de 2016

PONTO DE VISTA

Pelo telescópio
descobri que a lua
já foi escudo
de guerra
da terra
em outros tempos
outras vias
outras eras.
Crateras.

Mas outra coisa
diria o rato
que enxerga um prato
cheio de queijo
com recheio e
buracos
no meio.

(Do livro infantil DOCE DE FORMIGA)